A Criatividade como porta para uma nova dimensão do ser

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A Criatividade como porta para uma nova dimensão do ser

Hoje falamos  de criatividade, esta ferramenta maravilhosa que todos dispomos e que nos permite alcançar estados de consciência mais subtis que nos impulsionam para a mudança.

Sou particularmente fascinada pela maravilhosa relação que existe entre a nossa existência e o ato de criar e de como todos nascemos deste ato transcendente que permanece em nós como um impulso para avançar e crescer na descoberta de novos horizontes.

 

Infelizmente, quantas vezes ouvimos ou dizemos para nós mesmos  “ eu não sou criativo”?

A verdade é que todos temos um enorme potencial criativo e necessitamos  reaprender a deixar-nos fluir por este processo capaz de transformar as mentes mais aborrecidas em mestres da imaginação.

 

Como funciona a criatividade?

Essa é uma questão que nós – como humanidade – nos perguntamos há séculos, principalmente porque o processo criativo continua a ser considerado de certa forma misterioso. Podemos fazer uma série de coisas incríveis, mas simplesmente não conseguimos entender exatamente o que está a acontecer no nosso cérebro quando nos deparamos com uma ideia nova ou tropeçamos numa solução para um problema. Durante um longo período da história do pensamento humano, a criatividade foi vista como algo mágico, místico, incompreensível.

Na antiga Grécia acreditava-se que a criatividade era concedida aos humanos por um ser superior de outro mundo. Se alguém fosse merecedor e responsável para acionar uma ideia, os deuses concederiam-lhe criatividade. As musas iriam visitá-lo e implorar pelos seus presentes. Os romanos acreditavam que uma musa criativa era um guia espiritual que visitaria aqueles que estavam abertos a recebê-la, a fim de realizar grandes trabalhos ou feitos.

O que sabemos hoje é que o cérebro funciona através de conexões neuronais. Experimentamos algo (através de qualquer um dos nossos cinco sentidos) e as redes no nosso corpo reagem de acordo. Quando essas redes  se tornam continuamente ativas, elas criam um tipo de “memória”, essas memórias são formadas por muitas, muitas coisas; Incluindo coisas que não reconhecemos conscientemente.

 

Criatividade e desenvolvimento humano

 

O antigo conceito de criatividade esteve desde sempre associado ao criador, ao divino. Num conceito mais moderno a criatividade surge como um meio para a compreensão do potencial humano.

No surgimento do movimento do potencial humano ( psicologia humanista) foram desenvolvidos estudos que promoviam o pensamento lateral ( Edward Bono ) e as atividades associadas ao hemisfério direito de cérebro contribuindo desta forma para a expansão da importância da criatividade, intuição e instinto para a resolução de problemas.

 

Na era da globalização, onde pertencemos não só a uma mas a várias “redes” e comunidades, em que temos um acesso privilegiado a uma variedade de tradições e culturas como nunca antes, esta mesma diversidade pode ser uma fonte de criatividade pessoal e cultural.

É curioso que em quase todas as descrições sobre criatividade, encontramos uma fase de caos. Numa certa perspectiva o caos pode nos parecer como uma desintegração do eu mas considero que devemos olhá-lo como um prelúdio necessário para a expressão criativa.

Em oposição ao caos surge a ordem, a harmonia. A noção de harmonia existe em variadíssimas esferas, desde a literatura clássica a práticas da “nova era” à musicoterapia e também nas práticas xamânicas. Em muitas destas práticas, harmonia é designada como uma peça fundamental que contribui para a eliminação de elementos indesejáveis, sejam estes observados como espíritos conturbados, bloqueios ou neuroses, existindo mesmo inúmeros estudos na área da psicologia que associam conflitos internos à criatividade ou á falta desta.

 

As artes têm a maravilhosa capacidade de não só serem uma expressão da vida mas também de terem a capacidade de a transformar. O processo criativo é em si mesmo um processo de criação, um processo de transformação.

Os “ insights” que fazem parte deste processo são momentos de vislumbre que abrem portas a novas possibilidades e à criação de novos caminhos, novos padrões manifestados não só na música e arte mas também na nossa personalidade e ser.

Dentro deste processo vive a possibilidade de podermos resgatar as experiências dolorosas do passado e refazê-las num novo significado e caminho.

Este processo  criativo envolve necessariamente uma descida ao caos, ao desconhecido. Nas tradições xamânicas esta dimensão invisível é considerada um outro mundo, na musicoterapia e psicologia é vista como o inconsciente e é curiosamente desta viagem que emerge o profundo trabalho das artes.

 

Muitas vezes a nossa sociedade moderna sobrevaloriza a ordem , o caos é considerado “demonizado” e comumente chamado de doença. Idealmente deveríamos olhar para o caos com uma visão mais alargada,  um sistema de crenças mais integrador que compreendesse e lidasse com a esta diversidade, um modelo de integração do eu que fosse compreendido como a co-existência pacífica desta diversidade.

 

Curioso como a música pode ser o veículo para esta integração, parece-me que ao termos contacto com as várias manifestações culturais da música e ao explorarmos o vasto alcance da experiência humana a probabilidade de diversidade torna-se maior.