Música que nos conecta

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Música que nos conecta

Alegra-me perceber que existe atualmente um crescente interesse na relação entre espiritualidade, música e saúde. As conexões entre música e medicina e experiências religiosa estão bem estabelecidas e investigadas, mas pouco se sabe sobre como os aspectos musicais e espirituais da experiência humana trabalham juntos para influenciar o bem-estar.

A música tem desempenhado um papel integrador em quase todas as tradições sábias do mundo e é usada transversalmente como um veiculo de conexão e integração entre o mundo físico e o espiritual.

O primeiro som que ouvimos enquanto ainda estávamos no ventre de nossa mãe, foi o bater do seu coração e o ritmo da sua respiração. Não importa qual a nossa raça, género, idade, religião ou sistema de crenças, esta experiência comum existe para todos os seres humanos.

Reinhard Flatischler descreve na sua pesquisa acerca do poder do ritmo que “O Ritmo é o nosso primeiro companheiro, à medida que crescemos no útero, num estado de unidade com aquilo que nos rodeia, o bater do coração; o pulsar e a pausa preparam-nos para a dualidade, para a polaridade do mundo em que estamos prestes a nascer. O Ritmo pode ser compreendido como a polaridade em movimento e é precisamente devido a esta qualidade que é tão efectivo na integração de opostos e na resolução do pensamento dual. O ritmo e o movimento dão-nos acesso a um terceiro estado de ser, além dos padrões habituais de meu-teu; feliz-infeliz; interno-externo; tenso-relaxado; silêncio-ruido; movimento-quietude”

O poder da música e do ritmo desperta as nossas faculdades sociais, mentais, criativas e espirituais, qualidades essas, essenciais para cohabitação pacífica dos seres humanos na terra. Deixo aqui um excerto do que o pianista Lorin Hollander escreveu a respeito da dimensão da música

“Não há palavras que transmitam adequadamente tudo o que a música pode expressar. A música lida com  os mais altos patamares da alma humana. Todas as áreas da experiência humana são tocadas e expressadas de uma forma maravilhosa e bela pela música: as ansiedades, a busca, as alegrias e tristezas; As esperanças, os sonhos e visões; As emoções e a mitologia simbólica do inconsciente. No entanto, a música é muito mais .. O ritmo da música é uma metáfora para toda a vida. Grande parte da natureza manifesta um movimento rítmico. O próprio universo é um manifestação de ondas, vibrações, ciclos. A música é uma ciência mística profunda.”

A música tem sido usada como um modelo para descrever a própria essência da vida. George Leonard afirma: “Na raiz de todo o poder e movimento, no centro ardente da própria existência, há música e ritmo, o jogo das frequências padronizadas contra a matriz de tempo. Antes de fazermos música, música fez nos a nós”.

A música fornece-nos uma conexão direta com a Fonte. E é este aspecto mais profundo da música que facilita a jornada em direção à consciência de Unidade.

A seguinte citação de Sara Jane Stokes no livro Healing Imagery & Music (Bush, 1995) fala sobre a profundidade do estado espiritual evocado pela música: “É como se a música atuasse sobre nossa própria alma – desvendando o véu sobre quem somos verdadeiramente. Às vezes, a qualidade transcendente da música revela-se numa experiência indefinível de luz, de amor e de graça. Nestes momentos de pico, a música conecta-se de volta à sua própria fonte assim como à nossa também. Esta fonte é o mistério no âmago da Vida. Que através da música, nos toca e ficamos curados.”

 Quando usado num contexto terapêutico, a música pode ser um apoio significativo na integração das dualidades e no regresso à totalidade, dissolvendo barreiras e reclamando de volta aquilo que foi repudiado. A música pode “integrar plenamente as nossas dissonâncias, assim como nossas consonâncias “(Hesser) assim como é um meio para reintegrar aqueles aspectos que chamamos de “não-eu”. Aigen aborda esta qualidade transformacional da música: Como símbolo de transformação, a música está na interseção entre os nossos mundos interno e externo.

A sua importância e potencial terapêutico deriva da sua essência como sendo aquilo que pode unir esses reinos, mais especificamente a musicoterapia pode desempenhar um papel verdadeiramente integrador: trabalhando com conflitos intrapsíquicos, curando a separação corpo / mente e reconectando-nos com o reino transpessoal.